02 MAIO 2013
O novo argumentário
O que o Governo quer mesmo é cortar. Mas precisa de desculpas. Agora, para cúmulo, é a de que os juros não são altos. Ouvir o Primeiro-Ministro de um governo resgatado europeu dizer tal coisa seria grave só por si, mesmo que fosse verdade. Sendo mentira, é falta de consciência e de ética. E revela o que, ou quem, está por trás da ideia e, em última análise, que a remodelação radicalizou o Governo.
O Ministro das Finanças, que é neste momento porventura a pessoa em Portugal que mais ganha com os cortes (ver post abaixo), há muito que anda a dizer que os juros não são altos, contrariando todos os seus congéneres resgatados. Mas não o Ministro das Finanças alemão, nem um ou dois outros economistas portugueses que optaram pela mesma ideia. E o que fazem eles para dizer uma coisa dessas? Simples, comparam os juros dos empréstimos da troikacom os juros com que Portugal se financiava nos mercados antes do resgate, em vez de os compararem, como deve ser, com os juros do Banco Central Europeu. Estes, e os economistas sérios sabem isso, foram a referência para o empréstimo a Espanha, para a última revisão dos juros irlandeses (no empréstimo ao Governo para se livrar dos encargos do Anglo-Irish) e para os juros cobrados a Chipre. E como é que a ideia de que os juros não são altos passa do Ministro das Finanças para o Primeiro-Ministro e resto do Governo? Simples, o PM está rodeado de gente que nada percebe - ou nada quer perceber - de economia e que gosta muito de aprender coisas novas e revolucionárias, que só existem na cabeça de quem quer cortar.
Nada disto teria de ser dito, nada disto teria importância, se o país não estivesse a ser preparado para mais uma série de medidas de selvajaria social.
Francamente, estou chocado com o que continua a acontecer.
Até aqui, a mentira económica era uma: a da contracção expansionista; agora, é outra: a de que a alternativa é a bancarrota ou a saída do euro. As pessoas responsáveis, que apesar de tudo ainda existem no Governo, a todos os níveis,não saberão ir buscar a informação onde ela é fiável, em vez de ouvir pessoas que provaram estar absolutamente erradas nos últimos dois anos? E temo que o mesmo fenómeno esteja a acontecer na Presidência da República.
A troika esteve a fazer o que o sector financeiro queria. Muito bem, está feito. Entramos agora numa segunda fase em que os cortes já só servem à política e à luta ideológica de um punhado de gente que tomou conta dos destinos do país. O minímo que se pedia era que usassem um argumentário válido e sincero.
Entretanto, a ecomomia, a verdadeira, vai continuar a sofrer. Mas, claro, isso é coisa que estes novos aprendizes de economia acham errado perceber.
O Ministro das Finanças, que é neste momento porventura a pessoa em Portugal que mais ganha com os cortes (ver post abaixo), há muito que anda a dizer que os juros não são altos, contrariando todos os seus congéneres resgatados. Mas não o Ministro das Finanças alemão, nem um ou dois outros economistas portugueses que optaram pela mesma ideia. E o que fazem eles para dizer uma coisa dessas? Simples, comparam os juros dos empréstimos da troikacom os juros com que Portugal se financiava nos mercados antes do resgate, em vez de os compararem, como deve ser, com os juros do Banco Central Europeu. Estes, e os economistas sérios sabem isso, foram a referência para o empréstimo a Espanha, para a última revisão dos juros irlandeses (no empréstimo ao Governo para se livrar dos encargos do Anglo-Irish) e para os juros cobrados a Chipre. E como é que a ideia de que os juros não são altos passa do Ministro das Finanças para o Primeiro-Ministro e resto do Governo? Simples, o PM está rodeado de gente que nada percebe - ou nada quer perceber - de economia e que gosta muito de aprender coisas novas e revolucionárias, que só existem na cabeça de quem quer cortar.
Nada disto teria de ser dito, nada disto teria importância, se o país não estivesse a ser preparado para mais uma série de medidas de selvajaria social.
Francamente, estou chocado com o que continua a acontecer.
Até aqui, a mentira económica era uma: a da contracção expansionista; agora, é outra: a de que a alternativa é a bancarrota ou a saída do euro. As pessoas responsáveis, que apesar de tudo ainda existem no Governo, a todos os níveis,não saberão ir buscar a informação onde ela é fiável, em vez de ouvir pessoas que provaram estar absolutamente erradas nos últimos dois anos? E temo que o mesmo fenómeno esteja a acontecer na Presidência da República.
A troika esteve a fazer o que o sector financeiro queria. Muito bem, está feito. Entramos agora numa segunda fase em que os cortes já só servem à política e à luta ideológica de um punhado de gente que tomou conta dos destinos do país. O minímo que se pedia era que usassem um argumentário válido e sincero.
Entretanto, a ecomomia, a verdadeira, vai continuar a sofrer. Mas, claro, isso é coisa que estes novos aprendizes de economia acham errado perceber.