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Carta aberta a uns pedaços de merda
por FERREIRA FERNANDESHoje
Olá, amiguinhos do FMI. Eu sou o ratinho branco. Desculpem estar a
incomodar-vos agora que vocês estão com stress pós-traumático por terem lixado
isto tudo. Concluíram vocês, depois do leite derramado: "A austeridade pode ser
auto destrutiva." E: "O que fizemos foi contraproducente." Quem sou eu para
desmentir, eu que, no fundo, só fiquei com o canto dos lábios caídos, sem
esperança? O que é isso comparado com a vossa dor?! Eu só estiquei o pernil ou
apanhei três tipos de cancro, mas é para isso que servimos nos laboratório:
somos baratos e dóceis. Já vocês não têm esses estados de alma (ficar sem
emprego, que mau gosto...), vocês são deuses com fatos de alpaca e gravata
vermelha como esses três novos que acabam de desembarcar para nos analisar os
reflexos. "Corre, ratinho branco!", e eu corro. Vocês cortam-me as patas:
"Corre, ratinho branco!", e eu não corro. E vocês apontam nos vossos canhenhos
sábios: "Os ratos sem pernas ficam surdos." Como vocês são sábios! E humildes.
Fizeram-nos uma experiência que falhou e fazem um relatório: olha, falhou. Que
lição de profissionalismo, deixam-nos na merda e assumem. Assumir quer dizer
"vamos mudar-lhes as doses", não é? E, amanhã, se falhar, outro relatório: olha,
falhou. O vosso destino, amiguinhos do FMI, eu compreendo. Vocês são aves de
arribação, falham aqui, partem para ali. Entendo menos o dos vossos kapos
locais: em falhando e ficando, porque continuam seguros no laboratório?---Via: DN