Swapsteridade
Como é que um funcionário de um banco que trabalha em derivados foi convidado para integrar o Governo português? A resposta é simples: trata-se do resultado de um crescendo de algo que tem raízes longas no país e que foi agravado com o programa de resgate de há dois anos para cá, a saber, a estreita ligação entre o Governo e os interesses financeiros. A coisa saiu um pouco fora de mão e tornou-se escandalosa. Mas nem o Primeiro-Ministro, nem o Presidente da República, nem os restantes ministros, nem a quantidade enorme de conselheiros que os rodeiam, acharam estranha a contratação. Então, as privatizações não estão nas mãos de privados, assim como as colocações de dívida? As empresas públicas não estão cheias de ex-empregados bancários? A alma do BPN não continua viva? Os presidentes dos bancos não se pronunciam sobre política? Por que razão não pode haver ex-funcionários de bancos no Governo? Foi-se longe demais, mas a história é antiga. Todavia, o mais importante não é isso. O mais importante é algo que neste blogue se tem tentado mostrar, uma tarefa difícil, pois a demonstração só pode ser feita por dedução. Trata-se da estreita ligação entre o facto de o Governo ser próximo dos bancos e o grau de austeridade imposta ao país. E não vale a pena acrescentar aqui argumentos sobre isso, que estão um pouco por todo o lado. Bastam dois minutos de reflexão. Haverá, mais tarde ou mais cedo, um despedimento ligado ao caso, mas o problema continuará, até porque a Ministra das Finanças pertence ao mesmo quadro problemático. O problema só acabará quando tivermos um Primeiro-Ministro e um Presidente da República que não sancionem a contratação de membros de Governo ligados à banca. Parece revolucionário, mas é meramente simples. Vai é demorar algum tempo, pois não se vêm sinais de mudança, nem por parte dos actuais responsáveis políticos, nem por parte da opinião pública.
texto de Pedro Lains do blog:http://pedrolains.typepad.com/pedrolains/
