RAIOS DE EXTINTA LUZ
Terra de exílio! Aqui também as flores
Têm perfume e matiz; também vicejam
Rosas no prado, e pelo prado adejam
Zéfiros brandos suspirando amores:
Também cá tem a terra seus primores;
Pelos vales as fontes rumorejam;
Têm as moitas seus sopros, que fafejam,
E o céu tem a sua luz e seus ardores.
Em toda a natureza há amor e cantos,
Em toda a natureza Deus se encerra...
E contudo esta é a causa dos meus prantos!
Eu sou bem como a flor que não descerra
Em clima alheio. Que importa teus encantos?
Não és terra de exílio, a minha terra.
Antero de Quental
(este foi o primeiro soneto publicado por Antero. Apareceu na revista Fósforo.)