14.8.10

A POESIA DE JORGE DE SENA

INDEPENDÊNCIA


Recuso-me a aceitar o que me derem.

Recuso-me às verdades acabadas;

recuso-me, também, às que tiverem

pousadas no sem-fim as sete espadas.



Recuso-me às espadas que não ferem

e às que ferem por não serem dadas.

Recuso-me aos eus-próprios que vierem

e às almas que já foram conquistadas.



Recuso-me a estar lúcido ou comprado

e a estar sozinho ou estar acompanhado.

Recuso-me a morrer. Recuso a vida.



Recuso-me à inocência e ao pecado

como a ser livre ou ser predestinado.

Recuso tudo, ó Terra dividida!



Jorge de Sena, in 'Coroa da Terra'