7.8.09

ESTÉTICA DO DESALENTO

Já que não podemos extrair beleza da vida, busquemos ao menos extrair beleza de não podermos extrair beleza da vida. Façamos da nossa falência uma vitória, uma coisa positiva e erguida, com colunas , majestade e aquiescência espiritual.
Se a vida (não) nos deu mais do que uma cela de reclusão, façamos por ornamentá-la, ainda que mais não seja, com as sombras dos nossos sonhos, desenhos a cores mistas esculpindo o nosso esquecimento sobre a parada exterioridade dos muros.
Como todo o sonhador, senti sempre que o meu mister era criar.
Como nunca soube fazer um esforço ou activar uma intenção, criar coincidiu-me sempre com sonhar, querer ou desejar, e fazer gestos com sonhar os gestos que desejaria poder fazer.

Bernardo Soares, Fernando Pessoa, in O Livro do Desassossego (307)