28.7.09

CATILINA



Eu sou o solitário e nunca minto.
Rasguei toda a vaidade tira a tira
E caminho sem medo e sem mentira
À luz crepuscular do meu instinto.

De tudo desligado, livre sinto
Cada coisa vibrar como uma lira,
Eu- coisa sem nome em que respira
Toda a inquietação de um deus extinto.

Sou a seta lançada em pleno espaço
E tenho de cumprir o meu impulso,
Sou aquele que venho e logo passo.

E o coração batendo no meu pulso
despedaçou a forma do meu braço
Pr´além do nó de angústia mais convulso.

Sophia de Mello Breyner Andresen; in: Cem poemas de Sophia